Trabalho enviado pela aluna Manuella Findlay, 8º ano
Francisca
da Silva de Oliveira, ou simplesmente Xica da Silva, foi uma escrava, posteriormente alforriada, que viveu no Arraial
do Tijuco, atual Diamantina, Minas
Gerais, durante a segunda metade do século
XVIII. Xica era filha do português Antônio
Caetano e Sá e da escrava Maria da Costa, da Costa
da Mina, por meio de um relacionamento
extraconjugal. Foi registrada no Arraial Milho Verde, no município de Serro
Frio, atual Serro.
Foi escrava
do sargento-mor Manoel Pires Sardinha, proprietário de lavras no Arraial
do Tijuco. Nesta época teve pelo menos um filho, Simão Pires Sardinha, nascido em 1751, que teve como padrinho de batismo o então Capitão dos
Dragões do Distrito Diamantino, em homenagem ao qual recebeu o nome. O registro
de batismo deste filho não declara a sua paternidade, mas Manoel Pires
Sardinha deu-lhe alforria e nomeou-o como um de seus herdeiros no seu testamento, daí o
uso do mesmo sobrenome. Simão Pires Sardinhafoi educado na Europa e veio a ocupar cargos importantes no governo da Corte.
Embora não haja comprovação, alguns autores pretendem que ele teria tido parte
na Inconfidência Mineira.
Em seguida, Xica da Silva foi vendida
ou dada como escrava a José da Silva e
Oliveira Rolim, o
Padre Rolim. Ele foi, posteriormente, condenado à prisão pela importante
participação que teve na Inconfidência
Mineira. Também veio
a viver com Quitéria Rita, uma das filhas de Xica da Silva e João Fernandes.
Pouco tempo depois, em 1754, João Fernandes de
Oliveira chegou
ao Arraial do Tijuco para assumir a função de contratador
dos diamantes, que vinha sendo exercida por seu pai homônimo desde 1740. Em 1754 Xica da Silva foi adquirida ou alforriada pelo novo explorador de diamantes João Fernandes. Nesta época ela possuía ao menos
dois filhos, quando então passou a viver com o contratador, ainda que nunca
tivessem se casado oficialmente.
Do João Fernandes ela ainda teria treze filhos durante
os quinze anos em que com ele conviveu: Francisca de Paula (1755); João Fernandes (1756); Rita (1757); Joaquim (1759); Antonio Caetano (1761); Ana (1762); Helena (1763); Luiza (1764); Antônia (1765); Maria (1766); Quitéria Rita (1767); Mariana (1769); José Agostinho Fernandes (1770). Todos foram registados no batismo
como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época quando os
filhos bastardos de homens brancos e escravas eram registrados sem o nome do pai.
Entre 1755 e 1770 João Fernandes e Xica da Silva habitaram a edificação
existente no que hoje é a praça Lobo de Mesquita,
no número 266, em Diamantina.
A união consensual estável de João Fernandes e Xica da Silva não foi um caso
isolado na sociedade colonial brasileira de envolvimento de homens brancos com
escravas. Distinguiu-se por ter sido pública, intensa e duradoura, além de
envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico.
Os amantes separaram-se em 1770, quando João Fernandes de
Oliveira necessitou
retornar a Portugal para receber os bens deixados em testamento pelo pai. Ao partir, João Fernandes levou consigo os seus quatro filhos
homens. Em Portugal, os filhos homens de Xica da Silva receberam educação
superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam
títulos de nobreza.
Xica da Silva ficou no Arraial do Tijuco com as filhas e a posse das
propriedades deixadas por João Fernandes, o que lhe garantiu uma vida
confortáve. Suas filhas receberam a melhor educação que se dava às moças da
aristocracia local naquela época, sendo enviadas para o Recolhimento de
Macaúbas, em Santa Luzia (Minas
Gerais), onde
aprenderam a fazer tricô, foram letradas, receberam intrução musical. Dali, só
saíram em idade de se casar, embora algumas tenham seguido a vida religiosa.
Apesar de ser uma concubina,
Xica da Silva alcançou prestígio na sociedade local e usufruiu das regalias
privativas das senhoras brancas. Na época, todas as pessoas se associavam a
irmandades religiosas de acordo com a sua posição social. Xica da Silva
pertencia às Irmandades de São Francisco e do Carmo, que eram exclusivas de
brancos, mas também às irmandades das Mercês - composta por mulatos - e do
Rosário - reservada aos negros. Portanto, Xica da Silva tinha renda para
realizar doações a quatro irmandades diferentes, era aceita como parte da elite
local composta quase que exclusivamente por brancos, mas também mantinha laços
sociais com mulatos e negros por meio de suas irmandades.
Apesar disto, como era costume da época, logo que foi alforriada passou a ser
dona de vários escravos que cuidavam das atividades domésticas de sua casa.
Faleceu em 1796. Como era costume na época, Xica da
Silva tinha o direito de ser sepultada dentro da igreja de qualquer uma das
quatro irmandades a que pertencia. Foi sepultada dentro da igreja de São Francisco de
Assis pertencente a mais importante
irmandade local, um privilégio quase que exclusivo dos brancos ricos, o que
demonstra que mantinha a condição social mais alta mesmo vários anos após a
partida de João Fernandes para Togo.
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